quarta-feira, 3 de setembro de 2014

CAPÍTULO 11 – O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE)

Linda se questionou o que será o amanhã? A tristeza que soltou os seus olhos e que a atraiçoo. Como na música O que será (A flor da terra) – Chico Buarque, composição: Chico Buarque & Milton Nascimento.

À FLOR DA PELE

Como no passado, naquele momento a fuga do apartamento, se igualara as inúmeras vezes, que deixou a casa dos seus pais, após uma discussão tão corriqueira, à época.
Quando partia, sobre o protesto dos pais, como, aliás, partira na noite da despedida de solteira, mas sobre protesto de Bruna, para mais uma noitada, pronta para apreciar e viver o que de bom e ruim à noite lhe oferecia, para a sua alegria e tristeza destes.
Compartilhando com terceiros a liberdade, o prazer de viver sem a futilidade das classes abastadas. Diga-se de passagem, partia para os lugares mais adversos, nos quais frequentava e era feliz.
Entre esses, o que ela mais gostava era o Cabaré das Rosas, na qual a proprietária Dona Noêmia sabedora do seu espírito transgressor, sempre a puxava em um canto para uma conversar. E permitia que ela soltasse a sua voz, para exorcizar os seus demônios no palco.

 

UMA MULHER EM FUGA.

Como no passado, Linda partiu para a rua, a fim de viver o que de bom e ruim à noite tinha para oferecê-la. Sentia que o espírito transgressor de outrora tomara conta do seu eu.
Outrora os seus opressores eram os seus pais, Bruna e a carreira, ora o apartamento, que a fez lembrar-se dos momentos ali vividos tão antagônicos, que a oprimiu de tal maneira, que o deixou.
Fugiu de tudo que a oprimia, mas principalmente das lembranças que a fizeram descobrir o que todos já sabiam que o seu relacionamento estava fadado ao fim.
O pior, o amor que ela pensara existir entre as duas, o qual, aliás, a vendou para que ela enxergasse o que há tempo era visto por todos que as rodeava.
Venda tirada pelo sofrimento causado pelo /egocentrismo da ex-mulher, ou o drama sufocante da tensão causada pelos acontecimentos de dias atrás, que fez vir à tona os medos e as verdades de um relacionamento fadado ao fim.
Verdades que vieram com a força de um maremoto: o de lembranças. Elas eram tão destrutivas, como tudo que elas descobriram ao relembrá-las. Inclusive, as mágoas e a tristeza delas advindas, que a empurrara para o rio de profundidade abismal, que os seus olhos estavam a margear.
Precisava encontrar um porto, fosse ele momentâneo ou não, para que ela pudesse buscar abrigo. Envolta nas lembranças e no seu eu naufragado em tantos porquês, deixou que eles a levassem por ruas não confiáveis.
Nas quais, os sintomas da decadência urbana eram tão severos, com os seus prédios degradados, ruas escuras e para muitos, “mal frequentadas”, como no passado.
Naquela ocasião, o seu corpo se igualava a um pirata que passara meses no mar, pronta para aportar em uma cidade qualquer, a fim de pilhar ou pagar as mulheres que ali habitasse o prazer casual.
Por todo o percurso, a escuridão das ruas se igualava as mágoas e a triste que empurrara o seu eu, naquele rio de profundidade abismal. Os porquês que lhe causara assombro, a impulsionara para a felicidade de outrora.
As recordações e a vontade de ser feliz, mesmo que momentaneamente as guiavam para o Cabaré das Rosas. À medida de que elas as visitavam, os porquês davam gritos em sua alma.
"O amor que Bruna dizia existir tinha acabado? Ou não? "
"Como ela tinha sido capaz de agir de forma tão vil?"
"Quando e como as coisas começaram a sair dos trilhos?" 
"Será o que sentia por ela tinha se apagado?" 
 No afã de espairecer a cabeça Linda selecionou uma estação memorizada do rádio, utilizando o comando sob o volante do carro uma música, parou naquela que tocava La Vida Loca – Rica Martin.
Como na música ela desejava dar vazão ao espírito transgressor de outrora, o qual o sofrimento fizera ressurgir, mesmo que por uma noite, aquela em especial, seria muito feliz.
E por querer gozar a vida loucamente deixou que as lembranças a conduzisse, ao lugar do passado, no qual fora muito feliz: O Cabaré das Rosas.
Naquele momento o seu corpo clamava pela casualidade do sexo, melhor dizendo, ser livre sexualmente e buscar o próprio prazer, mesmo não perdendo o desejo de ser especial a alguém.
Os seus olhos desejavam ser incitado por um corpo qualquer, ou até quem sabe de uma stripper atraente, sem ser vulgar é claro. Na verdade, os seus olhos buscavam ver o corpo de outra mulher, sem enxergar o de Bruna.
Desejava ser possuída pela rainha da noite e com a sua dança ir ao inferno, ali despir-se do sofrimento, deixando embebedar-se do narcótico sabor de alguma bebida barata, deixado por um beijo desta.
Queria vivenciar a fugacidade da noitada de sexo livre, na ilusão de esquecer-se, mesmo que por algumas horas, do prazer ofertado em migalhas pela ex-mulher.
Vivê-lo-ia intensamente sem pudores tal luxúria, entre gemidos, sussurros, toques, carícias, gritos e risos na busca do prazer casual.
Nesse momento à vontade de colocar o seu nariz para o que vicia, aliás, vontade que há tempos não sentira.
Embalada nas lembranças selecionou outra música Loca Shakira (feat Dizzee Rascal), a qual, a letra se igualava a forma como guiava, naquela ocasião, parecendo ser tragada pela vida, momentaneamente desejava dançar e dançar.
As recordações lhe dava a certeza de que era finita a eternidade do amor que uma declarara a outra, diante dos seus familiares, amigos e demais convidados. Ou, se o amor declarado por Bruna, à época, algum dia ele tinha realmente existido.
O trauma vivenciado por Linda era tão turbulento, que em um determinado momento do percurso teve a certeza de que o amor declarado a Bruna tinha se apagado ou tornado um nada.
Se na verdade ele tivesse existido desvanecera com o tempo. O que a levou acreditar que o tudo que tinham, eram, na verdade, nada.
Certa que a vontade de tê-la ao seu lado, que até horas atrás gritava em sua alma e que a fez aceitar a reconciliação pedida por Bruna, quando da primeira separação, se esvaíra. Na verdade ela tinha tornado irremediável a distância entre elas.
O estresse e o mal-estar por ela vivenciado fizera com que ela sentisse a necessidade de parar em uma esquina conhecida e comprar pó. Precisava do efeito momentâneo daquela substância maléfica a fim de esquecer-se da dor e da mágoa que a consumia, qualquer custo.
No mesmo instante, suas pupilas dilataram, exaltou-se, eufórica sentiu um intenso bem-estar e segura de si o desejo sexual aumentou.
A segurança momentânea provocada pelo consumo da cocaína à fez ter vontade de dizer a Bruna tudo que estava sentindo. Talvez o seu sofrimento, se por acaso ele existisse a recompensaria.
Naquele momento tudo levava a crer que para Bruna o tempo no casamento/convivência era necessário, o qual para Linda colocou em evidência ao desvendar os seus olhos, que ele tinha acabado.
Ainda que o desse, seria o suficiente para que ela buscasse os seus pertences, no apartamento.
A necessidade de satisfazer o seu ego ferido a fez voltar o seu olhar para bolsa, a fim de buscar o aparelho de celular que tinha comprado em Florianópolis, já que quebrara o seu antes de viajar.

Ansiosa, não resistiu à tentação em descobrir se Bruna atenderia a sua ligação. E, que finalmente ela pudesse falar tudo que estava engasgado em sua garganta, vasculhou a bolsa com a mão direita e ao fazer isso se descuidou da direção.

Distraiu-se de maneira que não viu quando alguém atravessara fora da faixa de pedestre e por sorte Linda ao voltar o olhar para frente, conseguiu frear a tempo, evitando assim atropelá-la.
Aliviada, por ver que a transeunte tinha saído ilesa e de que tal incidente não passara de um susto, abriu o vidro da porta direita, a do carona e olhou para aquela mulher com jeito de menina.
Como ela tinha sido ágil desviou-se do carro e saltou em direção a calçada, apenas olhou para Linda com olhar de reprovação e continuou a caminhar ilesa.

Linda por sua vez, ao ver a tal mulher seguir o seu rumo, decidiu partir. O mais estranho era que o movimento brusco no volante ao frear a fizera tocar no botão de selecionar a estação.

Justamente a selecionada fora a que tocava a música Encontro de uma cantora à época nova, Maria Gadú. E ao ouvi-la sentiu a necessidade de mudar o rumo de sua história, ou em encontrar alguém que a mudasse.

Então refeita, seguiu para onde as lembranças a conduzia: O Cabaré das Rosas. E de quando em quando durante o resto do trajeto relembrava da mulher com jeito de menina, que quase atropelara. 
“O que uma mulher tão linda estava fazendo naquele lugar, ainda mais a pé?"
O mais incrível, era que ela a partir dali, o seu carro parecia ser conduzido no piloto automático e foi assim até chegar ao cabaré.
E, ao entrar na rua, em que ficava o cabaré, surpreendeu-se, pois, nada ali tinha mudado: os mesmos prédios, os mesmos letreiros. Aliás, era como se aquele lugar tivesse ficado aprisionado no tempo, principalmente, o de sua memória.
O Cabaré das Rosas tinha permanecido como o da sua lembrança, a mesma fachada velha e decadente. E, o letreiro como no passado anunciava: Shows de Strip-tease.
Em outra época, como habitue do lugar ela sabia que o interior do prédio guardava algumas surpresas, aos que lá se arriscavam a entrar, julgando pela fachada.
Já na rua, Linda passou a dirigir lentamente, olhava para os prédios relembrando o que ali passara. Foi quando o passado tomou conta de sua alma e ao olhar para o cabaré lembrou-se do seu interior luxuoso, bem diferente da fachada.

Aliás, ele internamente não diferenciava das casas noturnas frequentadas, pela classe abastada a qual ela pertencia, o que na verdade divergia era apenas o “estilo” de pessoas que ali frequentavam.

Ali estava Linda, depois de anos, que mais pareceram uma eternidade, diante do Cabaré e do fascínio que ele exercia sobre ela, estacionou o carro, mas ainda permaneceu em seu interior, por mais alguns minutos.

Diante da grata sensação que invadira a sua alma ao estar ali, viu sua vida em antes e depois de Bruna.
Questionou-se, mais uma vez, ao se preparar para ganhar a rua e a noite no Cabaré.
Como pude deixar que ela modifica-se o meu modo de viver?”  
Nesse momento tocou a música da Pitty – Dançando, que ela tanto amava interpretá-la e ouvi-la lembrando-se da mulher com jeito de menina, que minutos atrás quase a atropelara. 

Aliás, a letra era perfeita, realmente sabemos“(….) que lá no fundo. Há tanta beleza no mundo (….), como na música, ela só queria enxergá-la.
E, naquele momento o que Linda realmente queria era enxergar a beleza do mundo, pois tudo estava cinza, feio e sem brilho. 

E como na ciranda da vida ela viu o mundo a girar: 

CIRANDA
POR BTSE
Como no rodopiar da criança
Em uma ciranda a brincar
Minha mente rodopia,
Como se fosse o mundo a girar.

Gira o mundo,
A roda gira
E vejo nesses giros
Minha vida a rodopiar.

São iguais as cantigas
Das crianças a rodar,
A roda do mundo gira
Fazendo a minha vida andar.

No fascínio da criança
Numa roda a cantar,
Minha vida gira
Como pião a rodar.

Na ciranda cirandinha,
Faço um verso bem bonito
Rodopio e vou embora.

É a prova que mundo gira,
Fazendo a minha vida mudar. 

- x -

Comente a sua opinião é muito importante.
 
AS MARGENS DO RIO QUE SÃO OS SEUS OLHOS, EU SENTEI E CHOREI”.
ROMANCE 02.0002.011—Reeditado 09/10/14
Lei de Direito Autoral nº 9610/98
Notas finais:

 -> Para você meu Mar...
                    
 -> Lê e Lia meu mui obrigado por terem me incentivado no início.  
  -> Obrigada Rosana por carinhosamente ter comentado o capítulo 10.

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Um comentário:

  1. Bom dia Btse!
    Linda anda tão confusa, espero que ela recupere sua auto-estima e não caia nessa onde de destruição! Será que essa mulher com jeito de menina vai entrar na vida de Linda e fazer alguma diferença? E Bruna? Será que ainda tem chances com Linda?
    Na verdade a vida de Linda virou uma grande:

    Roda Viva
    Chico Buarque

    Tem dias que a gente se sente
    Como quem partiu ou morreu
    A gente estancou de repente
    Ou foi o mundo então que cresceu
    A gente quer ter voz ativa
    No nosso destino mandar
    Mas eis que chega a roda-viva
    E carrega o destino pra lá

    Roda mundo, roda-gigante
    Rodamoinho, roda pião
    O tempo rodou num instante
    Nas voltas do meu coração

    A gente vai contra a corrente
    Até não poder resistir
    Na volta do barco é que sente
    O quanto deixou de cumprir
    Faz tempo que a gente cultiva
    A mais linda roseira que há
    Mas eis que chega a roda-viva
    E carrega a roseira pra lá

    Roda mundo, roda-gigante
    Rodamoinho, roda pião
    O tempo rodou num instante
    Nas voltas do meu coração

    A roda da saia, a mulata
    Não quer mais rodar, não senhor
    Não posso fazer serenata
    A roda de samba acabou
    A gente toma a iniciativa
    Viola na rua, a cantar
    Mas eis que chega a roda-viva
    E carrega a viola pra lá

    Roda mundo, roda-gigante
    Rodamoinho, roda pião
    O tempo rodou num instante
    Nas voltas do meu coração

    O samba, a viola, a roseira
    Um dia a fogueira queimou
    Foi tudo ilusão passageira
    Que a brisa primeira levou
    No peito a saudade cativa
    Faz força pro tempo parar
    Mas eis que chega a roda-viva
    E carrega a saudade pra lá

    Roda mundo, roda-gigante
    Rodamoinho, roda pião
    O tempo rodou num instante
    Nas voltas do meu coração

    Roda mundo, roda-gigante
    Rodamoinho, roda pião
    O tempo rodou num instante
    Nas voltas do meu coração

    Roda mundo, roda-gigante
    Rodamoinho, roda pião
    O tempo rodou num instante
    Nas voltas do meu coração

    Beijos!

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