Linda
se questionou o que será o amanhã? A tristeza que soltou os seus
olhos e que a atraiçoo. Como na música O que será (A flor da
terra) – Chico Buarque, composição: Chico Buarque & Milton
Nascimento.
À FLOR DA PELE
Como
no passado, naquele momento a fuga do apartamento, se igualara as
inúmeras vezes, que deixou a casa dos seus pais, após uma discussão
tão corriqueira, à época.
Quando
partia, sobre o protesto dos pais, como, aliás, partira na noite da
despedida de solteira, mas sobre protesto de Bruna, para mais uma
noitada, pronta para apreciar e viver o que de bom e ruim à noite
lhe oferecia, para a sua alegria e tristeza destes.
Compartilhando
com terceiros a liberdade, o prazer de viver sem a futilidade das
classes abastadas. Diga-se de passagem, partia para os lugares mais
adversos, nos quais frequentava e era feliz.
Entre
esses, o que ela mais gostava era o Cabaré das Rosas, na qual a
proprietária Dona Noêmia sabedora do seu espírito transgressor,
sempre a puxava em um canto para uma conversar. E permitia que ela
soltasse a sua voz, para exorcizar os seus demônios no palco.
UMA MULHER EM FUGA.
Como
no passado, Linda partiu para a rua, a fim de viver o que de bom e
ruim à noite tinha para oferecê-la. Sentia que o espírito
transgressor de outrora tomara conta do seu eu.
Outrora
os seus opressores eram os seus pais, Bruna e a carreira, ora o
apartamento, que a fez lembrar-se dos momentos ali vividos tão
antagônicos, que a oprimiu de tal maneira, que o deixou.
Fugiu
de tudo que a oprimia, mas principalmente das lembranças que a
fizeram descobrir o que todos já sabiam que o seu relacionamento
estava fadado ao fim.
O
pior, o amor que ela pensara existir entre as duas, o qual, aliás, a
vendou para que ela enxergasse o que há tempo era visto por todos
que as rodeava.
Venda
tirada pelo sofrimento causado pelo /egocentrismo da ex-mulher, ou o
drama sufocante da tensão causada pelos acontecimentos de dias
atrás, que fez vir à tona os medos e as verdades de um
relacionamento fadado ao fim.
Verdades
que vieram com a força de um maremoto: o de lembranças. Elas eram
tão destrutivas, como tudo que elas descobriram ao relembrá-las.
Inclusive, as mágoas e a tristeza delas advindas, que a empurrara
para o rio de profundidade abismal, que os seus olhos estavam a
margear.
Precisava
encontrar um porto, fosse ele momentâneo ou não, para que ela
pudesse buscar abrigo. Envolta nas lembranças e no seu eu naufragado
em tantos porquês, deixou que eles a levassem por ruas não
confiáveis.
Nas
quais, os sintomas da decadência urbana eram tão severos, com os
seus prédios degradados, ruas escuras e para muitos, “mal
frequentadas”, como no passado.
Naquela
ocasião, o seu corpo se igualava a um pirata que passara meses no
mar, pronta para aportar em uma cidade qualquer, a fim de pilhar ou
pagar as mulheres que ali habitasse o prazer casual.
Por
todo o percurso, a escuridão das ruas se igualava as mágoas e a
triste que empurrara o seu eu, naquele rio de profundidade abismal.
Os porquês que lhe causara assombro, a impulsionara para a
felicidade de outrora.
As
recordações e a vontade de ser feliz, mesmo que momentaneamente as
guiavam para o Cabaré das Rosas. À medida de que elas as visitavam,
os porquês davam gritos em sua alma.
"O amor que Bruna dizia existir tinha acabado? Ou não? ""Como ela tinha sido capaz de agir de forma tão vil?""Quando e como as coisas começaram a sair dos trilhos?""Será o que sentia por ela tinha se apagado?"
No
afã de espairecer a cabeça Linda selecionou uma estação
memorizada do rádio, utilizando o comando sob o volante do carro uma
música, parou naquela que tocava La Vida Loca – Rica Martin.
Como
na música ela desejava dar vazão ao espírito transgressor de
outrora, o qual o sofrimento fizera ressurgir, mesmo que por uma
noite, aquela em especial, seria muito feliz.
E
por querer gozar a vida loucamente deixou que as lembranças a
conduzisse, ao lugar do passado, no qual fora muito feliz: O Cabaré
das Rosas.
Naquele
momento o seu corpo clamava pela casualidade do sexo, melhor dizendo,
ser livre sexualmente e buscar o próprio prazer, mesmo não perdendo
o desejo de ser especial a alguém.
Os
seus olhos desejavam ser incitado por um corpo qualquer, ou até quem
sabe de uma stripper atraente, sem ser vulgar é claro. Na verdade,
os seus olhos buscavam ver o corpo de outra mulher, sem enxergar o de
Bruna.
Desejava
ser possuída pela rainha da noite e com a sua dança ir ao inferno,
ali despir-se do sofrimento, deixando embebedar-se do narcótico
sabor de alguma bebida barata, deixado por um beijo desta.
Queria
vivenciar a fugacidade da noitada de sexo livre, na ilusão de
esquecer-se, mesmo que por algumas horas, do prazer ofertado em
migalhas pela ex-mulher.
Vivê-lo-ia intensamente sem pudores tal luxúria, entre gemidos, sussurros,
toques, carícias, gritos e risos na busca do prazer casual.
Nesse
momento à vontade de colocar o seu nariz para o que vicia, aliás,
vontade que há tempos não sentira.
Embalada
nas lembranças selecionou outra música Loca Shakira (feat Dizzee
Rascal), a qual, a letra se igualava a forma como guiava, naquela
ocasião, parecendo ser tragada pela vida, momentaneamente desejava
dançar e dançar.
As
recordações lhe dava a certeza de que era finita a eternidade do
amor que uma declarara a outra, diante dos seus familiares, amigos e
demais convidados. Ou, se o amor declarado por Bruna, à época,
algum dia ele tinha realmente existido.
O
trauma vivenciado por Linda era tão turbulento, que em um
determinado momento do percurso teve a certeza de que o amor
declarado a Bruna tinha se apagado ou tornado um nada.
Se
na verdade ele tivesse existido desvanecera com o tempo. O que a
levou acreditar que o tudo que tinham, eram, na verdade, nada.
Certa
que a vontade de tê-la ao seu lado, que até horas atrás gritava em
sua alma e que a fez aceitar a reconciliação pedida por Bruna,
quando da primeira separação, se esvaíra. Na verdade ela tinha
tornado irremediável a distância entre elas.
O
estresse e o mal-estar por ela vivenciado fizera com que ela sentisse
a necessidade de parar em uma esquina conhecida e comprar pó.
Precisava do efeito momentâneo daquela substância maléfica a fim
de esquecer-se da dor e da mágoa que a consumia, qualquer custo.
No
mesmo instante, suas pupilas dilataram, exaltou-se, eufórica sentiu
um intenso bem-estar e segura de si o desejo sexual aumentou.
A
segurança momentânea provocada pelo consumo da cocaína à fez ter
vontade de dizer a Bruna tudo que estava sentindo. Talvez o seu
sofrimento, se por acaso ele existisse a recompensaria.
Naquele
momento tudo levava a crer que para Bruna o tempo no
casamento/convivência era necessário, o qual para Linda colocou em
evidência ao desvendar os seus olhos, que ele tinha acabado.
Ainda
que o desse, seria o suficiente para que ela buscasse os seus
pertences, no apartamento.
A
necessidade de satisfazer o seu ego ferido a fez voltar o seu olhar
para bolsa, a fim de buscar o aparelho de celular que tinha comprado
em Florianópolis, já que quebrara o seu antes de viajar.
Ansiosa,
não resistiu à tentação em descobrir se Bruna atenderia a sua
ligação. E, que finalmente ela pudesse falar tudo que estava
engasgado em sua garganta, vasculhou a bolsa com a mão direita e ao
fazer isso se descuidou da direção.
Distraiu-se
de maneira que não viu quando alguém atravessara fora da faixa de
pedestre e por sorte Linda ao voltar o olhar para frente, conseguiu
frear a tempo, evitando assim atropelá-la.
Aliviada,
por ver que a transeunte tinha saído ilesa e de que tal incidente
não passara de um susto, abriu o vidro da porta direita, a do carona
e olhou para aquela mulher com jeito de menina.
Como
ela tinha sido ágil desviou-se do carro e saltou em direção a
calçada, apenas olhou para Linda com olhar de reprovação e
continuou a caminhar ilesa.
Linda
por sua vez, ao ver a tal mulher seguir o seu rumo, decidiu partir. O
mais estranho era que o movimento brusco no volante ao frear a fizera
tocar no botão de selecionar a estação.
Justamente
a selecionada fora a que tocava a música Encontro de uma cantora à
época nova, Maria Gadú. E ao ouvi-la sentiu a necessidade de mudar
o rumo de sua história, ou em encontrar alguém que a mudasse.
Então
refeita, seguiu para onde as lembranças a conduzia: O Cabaré das
Rosas. E de quando em quando durante o resto do trajeto relembrava da
mulher com jeito de menina, que quase atropelara.
“O que uma mulher tão linda estava fazendo naquele lugar, ainda mais a pé?"
O
mais incrível, era que ela a partir dali, o seu carro parecia ser
conduzido no piloto automático e foi assim até chegar ao cabaré.
E, ao entrar na rua, em que ficava o cabaré,
surpreendeu-se, pois, nada ali tinha mudado: os mesmos prédios, os
mesmos letreiros. Aliás, era como se aquele lugar tivesse ficado
aprisionado no tempo, principalmente, o de sua memória.
O
Cabaré das Rosas tinha permanecido como o da sua lembrança, a mesma
fachada velha e decadente. E, o letreiro como no passado anunciava:
Shows de Strip-tease.
Em outra época, como habitue do lugar
ela sabia que o interior do prédio guardava algumas surpresas, aos
que lá se arriscavam a entrar, julgando pela fachada.
Já
na rua, Linda passou a dirigir lentamente, olhava para os prédios
relembrando o que ali passara. Foi quando o passado tomou conta de
sua alma e ao olhar para o cabaré lembrou-se do seu interior
luxuoso, bem diferente da fachada.
Questionou-se,
mais uma vez, ao se preparar para ganhar a rua e a noite no Cabaré.
“Como pude deixar que ela modifica-se o meu modo de viver?”
Nesse
momento tocou a música da Pitty – Dançando, que ela tanto amava
interpretá-la e ouvi-la lembrando-se da mulher com jeito de menina,
que minutos atrás quase a atropelara.
Aliás,
a letra era perfeita, realmente sabemos“(….) que lá no fundo.
Há tanta beleza no mundo (….), como na música, ela só queria
enxergá-la.
E,
naquele momento o que Linda realmente queria era enxergar a beleza do
mundo, pois tudo estava cinza, feio e sem brilho.
E
como na ciranda da vida ela viu o mundo a girar:
CIRANDA
POR
BTSE
Como
no rodopiar da criança
Em
uma ciranda a brincar
Minha
mente rodopia,
Como
se fosse o mundo a girar.
Gira
o mundo,
A
roda gira
E vejo
nesses giros
Minha
vida a rodopiar.
São
iguais as cantigas
Das
crianças a rodar,
A
roda do mundo gira
Fazendo
a minha vida andar.
No
fascínio da criança
Numa
roda a cantar,
Minha
vida gira
Como
pião a rodar.
Na
ciranda cirandinha,
Faço
um verso bem bonito
Rodopio
e vou embora.
É
a prova que mundo gira,
Fazendo
a minha vida mudar.
- x -
Comente
a sua opinião é muito importante.
“AS
MARGENS DO RIO QUE SÃO OS SEUS OLHOS, EU SENTEI E CHOREI”.
ROMANCE
02.0002.011—Reeditado 09/10/14
Lei
de Direito Autoral nº 9610/98
Notas
finais:
->
Para você meu Mar...
->
Lê e Lia meu mui obrigado por terem me incentivado no início.
->
Obrigada Rosana por carinhosamente ter comentado o capítulo 10.
Ciente que:* Não autorizo a reprodução (publicação) do todo ou de parte do texto ou do poema acima, em qualquer tipo de mídia quer expressa, falada ou digital, inclusive por PDF ou download sem o meu consentimento;* Não autorizo que o texto ou o poema acima sofra qualquer tipo de adaptação, quer em língua portuguesa quer em estrangeira.* A imagem inclusa na postagem é de minha autoridade. Por favor, ao copiá-la referir à fonte.
Bom dia Btse!
ResponderExcluirLinda anda tão confusa, espero que ela recupere sua auto-estima e não caia nessa onde de destruição! Será que essa mulher com jeito de menina vai entrar na vida de Linda e fazer alguma diferença? E Bruna? Será que ainda tem chances com Linda?
Na verdade a vida de Linda virou uma grande:
Roda Viva
Chico Buarque
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Beijos!