Como
na música Presente Passado de Isabella Taviani havia descaminhos nos
passos de Linda, como se uma sombra a quisesse abraçá-la.
O DESPEDIR DE UMA VIDA MUNDANA
NO APARTAMENTO
A sensação de solidão acentuou-se
quando Linda entrou no apartamento e aos poucos foi vivenciando a mesma
experiência desagradável, que outrora derrotara o seu eu.
O sentimento de vazio que dele
aflorou e que a fizera dias atrás deixar o apartamento, e ir a Costão de
Santinho para reencontrar a paz. Refeita resolveu voltar ao Rio, mas bastou
entrar no apartamento que o vazio quis voltar a atordoá-la ao ponto de deixá-lo
novamente.
Precisava distrair sua mente e ser feliz, mesmo que fosse por alguns míseros minutos, mas a angústia tomou conta do seu eu, os seus olhos orvalharam de lágrimas pela sensação de desconforto.
Estranhamente sentiu um impulso irresistível de viver intensamente, precisava viver o que o mundo a oferecia para preencher o vazio existencial com alguma coisa.
Naquele estado, precisou (negativamente) do sabor do álcool na boca, colocar seu nariz a posto para tudo o que vicia, seus olhos clamavam por se maravilharem com um corpo qualquer, tomou conta de sua alma, um tanto dilacerada.
Aliás, era tudo o que ela precisava sentir-se acariciada por alguém, seu sexo pulsava, desejava sentir e dar prazer, mesmo se ele fosse algo completamente casual.
As lembranças
Lembrou-se das noitadas de anos atrás, da luxúria
vivida no Cabaré das Rosas, quando precisava esquecer-se dos problemas, trocava
de roupa, pegava o violão e ia ao Cabaré, aonde cantava, conversava amenidades,
ria e no final da noite saía em companhia de outra frequentadora, se entregando
ao prazer (luxúria).
Certa que os descaminhos dos seus passos eram a sombra do passado (Bruna) em seu futuro, ou a sombra do presente no minuto a ser vivido, a solidão. E era verdade, há tempo mesmo estando em sua companhia sentia-se sozinha.
O tempo que se deu em Costão de Santinho descortinou-se uma realidade, que somente Linda não tinha percebido era gritante o descompasso em seus passos.
Naquela ocasião, chegara à fase da vida que é necessário confiar em si mesmo, para se livrar do vazio existencial, ou da necessidade da presença de um alguém para viver e ser feliz. O que fez pairar uma dúvida:
"Será que foram as contingências da vida que a fizeram transgredir e se permitir a viver sem normas e limites, das duas vezes que tinha conhecimento?" "Ou tinha se permitido, outras vezes? "
Transgressão que, aliás, vivera e se deleitara “antes” de conhecê-la. Apesar de ter nascido em uma família tradicional e da alta sociedade carioca, desde muito cedo demonstrou que não era afeita as regras, mas por amor (Bruna) passou a respeitá-las.
Certamente ao manter aquele relacionamento tão desgastado por meses ou quem sabe anos, ela boicotava-se a si própria.
Como aquela menina que queria mudar o mundo, ou se rebelado contra a sociedade em que vivia, tinha se perdido e passara a frequentar as festas “Grans Monde”. Era como se a sua vida fosse traduzida em uma letra de música, naquele momento certamente esta seria Ideologia do Cazuza. A qual, aliás, era por Linda divinamente interpretada em seus shows.
Com certeza Linda enfraquecida, ou vivenciando um vazio existencial desejou “Cazuzear” e sair, como saiu em busca do prazer de viver, de se aventurar, ou correr risco de viver intensamente a vida, posto na letra da música.
"Como o amor (Bruna) a vez respeitar à hipocrisia das relações sociais? "
O que ele (o amor) de jeito nenhum conseguiu mudar
foi que ela aceitasse a hierarquização como fruto da diferenciação de classes.
Por ser filha única, recebera as benesses de pertencer a uma família de classe
alta, mas sempre a rejeitou.
Um espírito transgressor
Ao quatorze anos assumira a sua homossexualidade e
quando os pais souberam, por ela, forçaram-na a frequentar terapias diversas
até que, convencidos de que não havia outra solução, terminaram por aceitar e,
com o tempo, respeitar sua identidade\opção.
Se não bastasse, desde cedo mostrou o gosto exacerbado por música, no início tendo sido até bem aceito pela família, que a época chegava a estimular que se apresentasse nas festas familiares.
Entretanto, quando eles descobriram que o fazia às escondidas em outros lugares, passaram a proibi-la, pois esperavam que, em um futuro próximo, ela assumisse os negócios da família.
O espírito transgressor a fez traçar outros planos para si. Ele sonhava com o sucesso no show business, a exemplo de outros músicos e cantores cujas trajetórias, em muito, confundiam-se com a sua, entretanto, mas por terem pais mais novos, os apoiavam. O que não foi, diga-se de passagem, o seu caso.
Partindo da premissa de que tudo proibido é mais gostoso, por certo a proibição de seus pais fomentara a sua rebeldia, à medida que cresceu passou a fugir para se apresentar em casas noturnas.
O Cabaré das Rosas
Aliás, foi assim que em uma de suas fugas noturnas conheceu o Cabaré das Rosas. Com o tempo, apesar de a proibição imposta por seus pais, até mesmo pela sociedade a qual pertencia, aos poucos passou a ser frequentadora assídua, ao ponto da proprietária tratá-la como filha.Não tendo em casa o apoio esperado, enveredou-se numa cruzada, fugia para conhecer lugares de reputação duvidosa. Para os pais, a filha preferia uma vida mundana a aceitar o estilo de vida que lhe cabia e que podiam proporcioná-la.
Assim, conheceu e frequentou, desde cedo, dois mundos: um no qual o dinheiro e o prestígio dava poder de mando, outro aonde a falta deles tornavam as pessoas reféns daqueles que os detém.
Transitando entre mundos antagônicos, conviveu com a futilidade da classe abastarda e com o esforço sobre-humano de sobrevivência das menos privilegiadas e aprendeu a lidar bem com ambas as realidades.
Por anos, fora esse o motivo de inúmeras discussões que tivera com os seus pais e o que o sentimento de vazio a fez lembrar-se de uma das que eles tinham tido:
_ Vai para aonde, menina? (Perguntou o pai)
Respondeu-o com a rebeldia de sempre:
_ Ah! Vou sair por aí, pai. (Dando um meio
sorriso)
Retrucou-a com um olhar longo e profundo:
_ Uma hora dessas, filha!
Impaciente o respondeu:
_ Hum! Vou viver papai.
No afã das preocupações paternas, continuou a indagá-la:
_ Isto quer dizer o que, Linda Alvarez?
Com um sorriso aberto no rosto e respondeu-o:
_ Quer dizer, papaizinho querido, que vou para um
lugar onde a realidade é nua e crua.
O pai fechou o rosto e secamente retrucou-a:
_ Ah, este lugar deve ser algum desses inferninhos
que você anda frequentando (respirou fundo).
_ Hein!
_ Hein!
Ele ainda com o mesmo semblante, olhou para a esposa ao lado e continuou a falar:
_ É o resultado da vida mundana que você está
levando.
Com a mesma rebeldia, retrucou-o:
_ É pai! Vou a um desses inferninhos, sim.
Ao ouvir isto ele bradou:
_ Eu não disse Beatriz.
Replicou-o em alto e bom som:
_ O Senhor não queira saber o quanto eu sou
cuidada e protegida nestes “inferninhos”.
Paulo continuou a bradar, mas agora era com a mulher:
_ Beatriz, essa sua filha está procurando sarna
para se coçar.
Beatriz o respondeu:
_ Paulo! Isso é coisa da idade, logo passa.
Linda interveio no diálogo dos pais:
_ Isto é o que você pensa mamãe (deu um meio
sorriso).
A mãe não acreditando no que estava ouvindo, exclamou:
_ Hein!
Respondeu-a, fitando os seus olhos:
_ Amo está vida, que vocês chamam de mundana, como
os lugares que frequento, como as pessoas que neles vivem.
O pai interveio começou a falar, mas a filha o interrompeu:
_ Nossa! Diz isto como se ela fosse obrigada a
frequentá-los, por não ter outra opção, mas...
Questionou-o:
_ mas, o que pai...
Continuou a falar, balançando a cabeça, como fosse um sinal de que estivesse preste a explodir:
_... mas você tem de tudo, acho que nós a mimamos
demais.
Questionou-o, dando um meio sorriso:
_ Será?
Respondeu-a já demonstrando o seu inconformismo, com ritmo da conversa.
_ Aliás, não lhe falta nada, exceto o juízo.
Ao ouvir isto Beatriz achou por bem terminar aquela discussão, pedindo:
_ É melhor nós pararmos por aqui, Paulo.
Ele exclamou contrariado:
Ele exclamou contrariado:
_ Não!
Disse Beatriz olhando-a com ar de reprovação:
_ Quanto mais nós dizermos não a ela, pior será.
Até parece que ela faz de propósito para nos agredir.
Indignada exclamou:
_ Mãe!
Interveio Paulo mandando-a ir:
_ Vá! Depois não reclame se acontecer algo, arque
com as consequências.
Usando da rebeldia, deu um sorriso e disse:
_ Fui...
Às vezes variava o diálogo, mas com a mesma tônica, era assim que ela deixava o casarão, em estilo renascentista de três andares, em que morava com seus pais.
E, partia para mais uma noitada, pronta para apreciar e viver o que de bom e ruim à noite lhe oferecia, para a sua alegria e tristeza dos seus pais. Compartilhava com terceiros a liberdade, o prazer de viver sem a futilidade das classes abastadas.
Para ir aos lugares mais adversos em que frequentava e nos quais era feliz. Entre eles, o que ela mais gostava era o Cabaré das Rosas, aonde Dona Noêmia sabendo seu estado de espírito, sempre a puxava em um canto para conversar, e permitia que ela soltasse a sua voz e exorcizasse seus demônios no palco.
Ali ela era feliz, no meio de artistas e de gente mundana que ao longo dos anos passou a frequentar o cabaré para ver a jovem cantora se apresentar.
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“AS MARGENS DO RIO QUE SÃO OS SEUS OLHOS, EU SENTEI
E CHOREI”
ROMANCE 02.0002.008 - Reeditado 13/07/14
Lei de Direito Autoral nº 9610/98
ROMANCE 02.0002.008 - Reeditado 13/07/14
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Notas finais:
-> Para você meu Mar...
-> Lê e Lia meu mui obrigado por terem me incentivado no início.
-> Obrigada Rosana por ter carinhosamente comentado o capítulo 07
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